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sábado, março 30, 2013

poema


e todas as outras
desconfiadas agora
atentas às flores

e todas as outras
sem sorrir
lembrando outras

sorrindo nos jardins
atentas às flores
desconfiadas agora

que lembram outras
desconfiadas agora
apresentando flores

que lembram outras caras
lembrando outras
sem desconfiar pelos jardins

que apresentam os seus jardins
lembrando outras
que desconfiam das flores



harold pinter




 photo mathewtischler.jpg
O MEU LIVRO


A mulher ilustrada

Photobucket


Do lado Esquerdo 01
A mulher ilustrada
de Maria Sousa
150 exemplares, 50pp.

os livros só serão vendidos online, se o quiserem comprar basta enviarem um mail para: editoradoladoesquerdo@gmail.com 
ou mandarem uma mensagem para a nossa página do facebook.
https://www.facebook.com/DoLadoEsquerdo

Responderemos com as instruções necessárias para o envio do livro.

domingo, março 24, 2013

sexta-feira, março 15, 2013

À infância só se chega partindo de muito longe. A infância é aí, onde partes, não onde chegas. Olha para trás. Que vês? Nada. A memória é a única coisa que verdadeiramente te pertence, mas lembras-te de um estranho. Como poderias, há muitos anos, saber que eras apenas a lembrança de um estranho:

tu?

Lembras-te do carrinho de pau? Lembras-te do poço? O que havia debaixo da cama? O que estava escondido atrás dos cortinados?

Palavras é tudo o que tens. O carrinho de pau: palavras. O cão: palavras. O medo: palavras. Alguma vez tiveste outra coisa?



Manuel António Pina



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quarta-feira, março 13, 2013


AS COISAS LENTAS

Fumo demasiado depressa
o meu cigarro apagado.
Os cigarros fumam-se lentamente
ao espelho fixando um único dos nossos rostos.
Pois bem: na casa só nos cacos há reflexos. Os rostos suspendem-se
entre nós e nós, as letras das palavras. Os rostos aguardam-se,
observam-se, ao longe. E não há fumo que os evole..
Talvez por isso: nunca aprendi a acender um cigarro
por ser absolutamente desnecessário aprender a aprender a acender
um cigarro. Na casa onde tu fumavas
cada cigarro era uma letra. De cada vez que o filtro te tocava
os lábios eu perguntava: como te chamas? À superfície
do teu espelho, o teu vagar respondia-me
até ao esquecimento de nós.
Talvez por isso: tento acender um cigarro. Apago-o antes
que me chegue aos lábios.





Inês Fonseca Santos




 photo sabinadimitriu-1-2.jpg

terça-feira, março 05, 2013

Há meses que vivo rodeada
por uma substância negra e pegajosa
que invadiu a minha casa. As paredes,
o chão, as janelas e os móveis,
a comida, os livros e a roupa,
o teclado do computador, as plantas,
o telefone… Está tudo impregnado
com este pez escuro, o mesmo que respiro
e que me mata pouco a pouco.
Dizem que os venturosos e os néscios
chamam melancolia a esta porcaria
que apodrece o coração e asfixia a alma.




Amalia Bautista




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