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terça-feira, maio 12, 2009

tradução caseira da lebre


Algumas pessoas vendem o seu sangue. Tu vendes o teu coração.
Era isso ou a alma.
A parte difícil é tirar a maldita coisa para fora.
Uma espécie de torção. Como abrir uma ostra,
a tua espinha, um pulso,
e depois, upa! Está na tua boca.
Viras-te parcialmente do avesso
como uma anémona do mar a cuspir um seixo.
Há um “plop”quebrado, o som
de vísceras de peixe a cair num balde.
E ali está, um enorme coágulo vermelho escuro
do passado ainda-vivo, a cintilar inteiro no prato.
Vai passando de mão em mão. É escorregadio.É deixado cair.
Mas também degustado. Muito grosseiro, diz um. Muito salgado.
Muito amargo, diz outro, fazendo uma cara.
Cada um é um gourmet instantâneo,
e tu ficas a ouvir isto tudo
a um canto, como um empregado de mesa recém-contratado,
a tua mão tímida e habilidosa na ferida escondida
no fundo da camisa e peito,
timidamente, sem coração.




Margaret Atwood




8 Comments:

Blogger menino mau said...

luv it!! ^.^

12/5/09 00:46  
Blogger Menina Limão said...

chiça.


(como sempre)

12/5/09 04:57  
Blogger Frioleiras said...

belíssímo..........................................................................................................................................................................................demasiado..

12/5/09 09:44  
Anonymous Anónimo said...

a que saberá o meu coágulo?

12/5/09 10:45  
Blogger Filipa Júlio said...

speechless.

12/5/09 11:45  
Blogger V. said...

fabuloso!

12/5/09 12:01  
Anonymous Anónimo said...

tanta tristeza paira por aqui...

12/5/09 12:37  
Blogger Alice Gabriel said...

A Margaret Atwood é fantástica... E a tradução está ao nível.

14/5/09 21:48  

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