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sexta-feira, junho 30, 2006

eu já vos disse que este blog é muuuuiiiiiiiiito, muuuuiiiiiito bom? Se não disse, digo agora

O DIÁRIO DÓCIL É MUITO BOM

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quinta-feira, junho 29, 2006

mais uma tradução caseira da lebre


Isto foi um erro,
estes braços e pernas
que já não funcionam

agora está partido
sem espaço para desculpas.

A terra não conforta,
Apenas cobre
Se tiveres a decência de ficar quieto

O sol não perdoa,
Olha e continua a andar.

A noite infiltra-se em nós
através dos acidentes que
provocámos um ao outro

da próxima vez que cometermos
amor, devemos
escolher primeiro o que matar.


Margaret Atwood


quarta-feira, junho 28, 2006

Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria rir, chorar,
ou pelo menos sorrir
com a mesma leveza com que
os ares me beijavam.
Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça,
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando.

Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.

Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.

Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.

Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio.

Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las.

Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.


Ana Cristina César


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terça-feira, junho 27, 2006

A vida dum peixe vermelho

A Sara tinha um peixinho vermelho dentro duma bacia. O peixinho vermelho chamava-se Noé e estava dentro da bacia a nadar. Uma vez a Sara meteu-se dentro da bacia e foi a nadar atrás do peixinho. No fundo da bacia havia uma porta. O peixinho vermelho morava lá e tinha lá dentro uma casa, com uma sala com armários e com cadeiras e uma mesa.

O peixinho sentava-se à mesa a escrever, andava a escrever um livro. O título do livro era: “A vida dum peixe.” A Sara naquela altura ainda era pequena e não sabia ler e por isso andava muito aborrecida e cheia de curiosidade de saber o que estava lá escrito.

Todos os dias ia lá com o Noé para dentro da casa dele e Noé deixava-a ficar sentada numa cadeira a olhar para ele, a vê-lo escrever o livro.

Então a Sara teve uma idéia: quando podia ia à casa do Noé, sentava-se à mesa com um papel e copiava muito bem tudo o que estava escrito no livro. Depois guardava muito bem o papel para, quando fosse grande e já soubesse ler, ler o livro da vida do peixinho. Comprou uma caneta, e umas letras eram grandes e outras pequenas e havia letras redondas como bolas e outras letras compridas.

A Sara copiava tudo muito bem copiado e o Noé todos os dias punha mais coisas no livro.

Quando a Sara aprendeu a ler, foi a correr buscar os papéis. Mas nos papéis só estavam escritos gatafunhos e riscos, porque o peixinho vermelho afinal não sabia escrever e fazia aquilo para a Sara julgar que ele era muito sábio e andava a escrever um livro sobre a vida dele e para Sara ficar com muita admiração pelo peixinho e gostar muito dele.

A Sara, primeiro, ficou triste, porque estava cheia de curiosidade. Depois não disse nada ao Noé que sabia ler, e todos os dias ia com ele para a casa dele e ele escrevia coisas no livro para a Sara olhar para ele. E Sara ficava muito admirada, para o Noé ficar contente porque a Sara gostava muito daquele peixinho vermelho.

Um dia, aquele peixinho vermelho morreu e a Sara ficou muito triste e meteu o peixinho vermelho numa caixa com desenhos e enterrou-o no quintal. Depois a Sara plantou uma flor no lugar onde enterrou o peixinho e deitou-lhe a água da bacia.

A flor cresceu, era muito bonita e vermelha e a Sara pôs-lhe o nome de Alice Lidell.


Manuel António Pina


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segunda-feira, junho 26, 2006

domingo, junho 25, 2006

ela vigia com rosto de menina sem sono
o que da insónia é mobília gasta pelos olhos

sucessão de coisas dispostas sobre a cama
colchas brancas onde já não restam milagres

da infância sobraram fotografias
jogos onde a memória se entretém a inventar rotinas

como sombra no arredor dos olhos
em tempo de papoilas abrem-se as janelas ao vermelho
no trabalho de aprender a adormecer


Maria


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quinta-feira, junho 22, 2006

diz-me um segredo
mantém-me acordada
enquanto esta noite não chega ao fim



Dulce Maria Cardoso

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estou apaixonada por esta capa
sim, sim, declaro-me totalmente viciada nos livros da Dulce Maria Cardoso

quarta-feira, junho 21, 2006

Beyond the Sea

Somewhere beyond the sea
somewhere waiting for me
my lover stands on golden sands
and watches the ships that go sailin

Somewhere beyond the sea
she's there watching for me
If I could fly like birds on high
then straight to her arms
I'd go sailin'

It's far beyond the stars
it's near beyond the moon
I know beyond a doubt
my heart will lead me there soon

We'll meet beyond the shore
we'll kiss just as before
Happy we'll be beyond the sea
and never again I'll go sailin'

I know beyond a doubt
my heart will lead me there soon
We'll meet (I know we'll meet) beyond the shore
We'll kiss just as before
Happy we'll be beyond the sea
and never again I'll go sailin'

no more sailin'
so long sailin'
bye bye sailin'...




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terça-feira, junho 20, 2006

procuro o maço de cigarros na carteira, fumar mata, em letras enormes, de um lado, do outro, fumar causa o envelhecimento da pele, se por um acaso não morrer, se me der para ser eterna, tenho direito a uma indemnização já que me asseguraram que fumar mata, desde quando é que todas as coisas desataram a falar, a estrada, conduza com prudência, respeite a margem de segurança, se conduzir não beba, imagino qualquer dia o hall de um prédio, se tiver uma vizinha boazona por favor não a apalpe, ou, apalpar vizinhas depende da autorização prévia do condomínio que reserva o direito de, outro aviso, quando pisar merda de cão na rua não limpe os sapatos no capacho do vizinho, procure antes os capachos de outros prédios, acendo o cigarro, hoje à tarde o banco, subscreva um plano poupança habitação, um plano poupança reforma, qualquer dia o banco, subscreva um plano infalível de assalto à mão armada, pode ainda subscrever os complementos especial perversidade, ou fuga para país tropical, a farmácia onde ontem fui comprar pingos para o nariz, já não se usa morrer de amor, use preservativo, vigie o seu colesterol, meça a sua tensão, beba um litro e meio de água por dia, evite as gorduras, faça exercício, a farmácia e o rol de conselhos, não acho bem que as estradas, os bancos, as farmácias, as roupas, tenham desatado a falar, os disparates dos falantes tradicionais chegavam


Dulce Maria Cardoso


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segunda-feira, junho 19, 2006

Há coisas de que eu não falo, desculpe. Tenho vergonha. Hoje toda a gente fala de tudo, das coisas mais íntimas, dos amores, até de coisas do corpo, do nosso corpo, mas eu tenho vergonha, desculpe. Não é por ter tido educação religiosa, nem por excesso de pudor, - ou até pode ser por isso - mas é que há coisas que por mais que se fale delas, nunca ficam esclarecidas. Nem se chega lá perto. Mas não se consegue compreendê-las.


Luísa Costa Gomes


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sexta-feira, junho 16, 2006

tradução caseira da lebre

Ó mãe
aqui no teu colo,
tão bom como uma taça cheia de nuvens,
a mim, a tua criança gananciosa
é dado o teu peito,
o mar embrulhado em pele,
e os teus braços.
raízes cobertas de musgo
com novos rebentos a nascerem
para me provocar as cócegas.
Sim, estou casada com o meu urso
mas ele tem o teu cheiro
e também o meu.
O teu colar que eu tacteio
é todo olhos de anjo.
Os teus anéis que brilham
são como a lua no lago.
As tuas pernas que abanam para cima e para baixo,
as tuas queridas pernas cobertas de nylon
são os cavalos que eu cavalgarei
para a eternidade.

Ó mãe,
depois deste colo de infância
nunca irei
para o mundo das pessoas grandes
como um estranho
uma fabricação,
ou vacilar
quando alguém
for tão vazio como um sapato.

Anne Sexton


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quarta-feira, junho 14, 2006

sabia que a pele é o maior órgão do corpo humano

Dulce Maria Cardoso

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terça-feira, junho 13, 2006

a jukebox da lebre (canção perfeita versão 1.7)

UNCERTAIN SMILE

Peeling the skin back from my eyes
I felt surprised
That the time on the clock was the time
I usually retired
To the place where I cleared my head of you
But just for today
I think I'll lie here and dream of you

I've got you under my skin
Where the rain can't get in
But if the sweat pours out, just shout
I'll try to swim and pull you out

A howling wind that blows the litter
As the rain flows
As street lamps pour orange coloured shapes
Through your windows
A broken soul stares from a pair of watering eyes
Uncertain emotions force an uncertain smile

I've got you under my skin
Where the rain can't get in
But if the sweat pours out, just shout
I'll try to swim and pull you out

The The

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sábado, junho 10, 2006

sou esta areia que se esvai
entre o cascalho e a duna
a chuva de Verão chove-me na vida
sobre mim a vida que me foge persegue-me
e vai acabar no dia do começo

caro instante vejo-te
nesta névoa que se levanta
quando não tiver de pisar estas longas soleiras movediças
e viver o espaço de uma porta
que se abre e que se fecha


Samuel Beckett


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sexta-feira, junho 09, 2006

Este teledisco é lindo

I don't want to grow up do tio tom


(sim a lebre é gaija do tempo do topdisco e anda tubodependente)

quinta-feira, junho 08, 2006

atravessas-me e há vozes em coro
a passear pelos arredores da pele

esqueço-me de sentir
e é com pele que te faço o centro da ferida

cuidado

a realidade é feita do que não quero ser
dias sólidos de onde não saímos

é tarde e amanhã começa com a tua voz ontem

sobre uma mesa posta (natureza morta com vento)
é tudo simples e quando o nada me acaricia os dedos
não há respostas para o que o vento pergunta

Maria

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quarta-feira, junho 07, 2006

"Era evidentemente mentira tudo aquilo que eu contara na minha carta de amor, ou melhor: era tão verdade que ainda não tinha acontecido."


António Pedro

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segunda-feira, junho 05, 2006

como se ainda voltasses
na luz improvável

efeitos de luz a deixar que a noite nos ilumine

feridos pelas estrelas
vamos pintando o longe com gestos lentos
na minha pele o aforismo das coisas todas

a meio do caminho entre vultos a adormecer
o clarão da cidade é feito de improvisos sobre lágrimas

e assim
olhos nos olhos
somos o espelho de arvores pássaros e sombra


maria


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sexta-feira, junho 02, 2006

a lebre faz anos

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