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quarta-feira, novembro 10, 2004



Banho-me na luz calma duma gota
e lembro como fui educada:
Um lápis na minha mão,
a mão fresca da mãe na minha, tão quente.
E então escrevíamos
para dentro e para fora dos recifes de coral
um alfabeto submarino de curvas e de pontas,
de espirais de caracol, de tentáculos de estrelas-do-mar,
de braços esgrimindo de polvos,
de grutas arqueadas e de formações de rochas.
Letras que cintilaram e acharam o caminho,
vertiginosas por cima do branco.
Palavras como peixes achatados que se remexeram
e se enterraram na areia
ou anémonas-do-mar oscilantes, com centenas de fios
em movimento calmo, de uma assentada.
Frases como correntes de peixes
que ganharam barbatanas e se ergueram,
ganharam asas e se moveram, cheios de ritmo,
pulsando com o meu sangue que, suavemente,
opôs estrelas ao céu nocturno do coração.
Vi, naquele momento, que a sua mão havia largado a minha,
que a minha escrita me livrara há muito das suas garras.


Pia Tafdrup